A filosofia, longe de ser mero exercício de palavras ou disputa de conceitos, é o movimento pelo qual a alma humana se desvela a si mesma. Estudá-la não é acumular saberes, mas despertar — como quem, após anos adormecido, abre os olhos e percebe que a luz sempre esteve ali, esperando ser reconhecida.
1. O Espelho da Autognose
A primeira função do filosofar é confrontar o homem com sua própria ignorância. Sócrates, ao proclamar "só sei que nada sei", não celebrava a falta de conhecimento, mas a humildade de quem reconhece os limites da percepção. Estudar filosofia é olhar para um espelho que reflete não o rosto, mas a estrutura da alma: suas contradições, seus anseios por justiça, sua sede de eternidade. Quem teme esse reflexo foge; quem o aceita inicia a jornada.
2. A Liberdade na Pergunta
Enquanto outros campos do saber oferecem respostas, a filosofia cultiva perguntas. Não por acaso, sua origem está no espanto: "Por que há ser e não o nada?", "O que é a virtude?", "Existe destino ou somos artífices de nossa própria história?". Essas interrogações não são armadilhas, mas chaves. Elas libertam o pensamento das amarras do óbvio e o lançam em um abismo criativo, onde até o mais trivial — uma folha que cai, um gesto de bondade — torna-se enigma a ser decifrado.
3. A Ética como Arte de Existir
Platão via a filosofia como terapia da alma. Para ele, assim como um médico cura o corpo, o filósofo cura a mente, removendo as ilusões que nos fazem confundir o bem com o útil, o justo com o conveniente. Estudar filosofia, portanto, é aprender a esculpir a si mesmo: cada ideia examinada é um golpe de cinzel que retira o excesso e revela a forma oculta. Não se trata de seguir regras, mas de criar, a cada dia, um modo de vida que harmonize razão, paixão e desejo.
4. A Coragem do Desenraizamento
Filosofar exige desapego. É preciso questionar até mesmo o que parece sagrado: tradições, crenças, certezas herdadas. Esse desenraizamento assusta, pois nos joga em um vazio onde não há garantias. Mas é ali, nesse deserto de significados, que a mente descobre sua força criadora. Quem se lança nessa travessia não busca certezas absolutas, mas a liberdade de pensar sem correntes.
5. A Beleza do Inútil
Num mundo obcecado por utilidade — onde até o ócio é "produtivo" —, a filosofia é um ato de rebeldia. Ela não produz lucro, não acelera o tempo, não entrega soluções prontas. Sua única promessa é a de ampliar os horizontes do possível. E nisso reside sua força subversiva: ao nos fazer contemplar o que está além do imediato, ela revela que a vida não se reduz a sobreviver. Há algo mais: um mistério que nos habita e que, paradoxalmente, só se revela quando deixamos de buscá-lo.
Conclusão: A Filosofia como Caminho sem Fim
Estudar filosofia é, portanto, abraçar um paradoxo: quanto mais se avança, mais se percebe que o caminho é infinito. Não há diploma que coroe o "filósofo formado", pois a sabedoria não é meta, mas travessia. E nessa travessia, o único prêmio é o próprio ato de caminhar — de questionar, de duvidar, de se reinventar. Quem ousa iniciá-la descobre, enfim, que a verdadeira filosofia não está nos livros, mas no silêncio que vem após as palavras, no instante em que a mente, cansada de correr, percebe que a resposta sempre esteve na pergunta.
Autor - Professor Prezotto