A poesia japonesa é uma das manifestações literárias mais delicadas e profundas, caracterizada pela concisão, pela valorização da natureza e pela expressão de emoções de forma indireta. Dentro desse rico panorama, destacam-se três formas principais: o haikai, o tanka e o kanshi. Cada uma delas possui sua própria história, métrica e espírito, refletindo diferentes momentos da sensibilidade japonesa.
1. Haikai (俳句)
O haikai, ou haiku, é uma forma poética que surgiu no Japão no século XVII. Ele é conhecido por sua concisão e profundidade, contendo apenas três versos com 17 sílabas no padrão 5-7-5. Geralmente, o haikai apresenta um kigo (palavra de estação) e um kireji (corte que cria impacto ou pausa).
Matsuo Bashō (1644–1694) é o mestre mais reconhecido do haikai. Sua obra reflete a simplicidade zen e o contato com a natureza.
Exemplo de Bashō:
> Um velho lago,
Salta uma rã — o som
Da água.
Original em português:
> Pétalas caem,
Ao vento, dançam livres,
Silêncio eterno.
2. Tanka (短歌)
O tanka, que significa "poema curto", antecede o haikai e remonta ao século VII. É composto por cinco versos com métrica fixa de 5-7-5-7-7 sílabas. Ele é mais expansivo que o haikai, permitindo a exploração de sentimentos, amor e natureza de forma mais elaborada.
Poetas como Ono no Komachi (século IX), famosa por sua poesia romântica, e Saigyō (1118–1190), que uniu natureza e espiritualidade, destacam-se nesse estilo.
Exemplo de Saigyō:
> No meu coração,
A lua cheia paira,
Silêncio e paz.
Mas no mundo ao redor,
A guerra nunca cessa.
Original em português:
> No céu tranquilo,
A lua acaricia
Montanhas frias.
Em meus sonhos, tua face
Surge entre sombras do tempo.
3. Kanshi (漢詩)
O kanshi é a poesia japonesa escrita em chinês clássico, uma prática que floresceu no Japão durante o período Heian (794–1185). Inspirado pela poesia chinesa, o kanshi segue formas rígidas como o quatrain (4 versos, métrica 5-7) e o regulated verse (8 versos, métrica regular). Ele reflete erudição e reverência pela cultura chinesa.
Sugawara no Michizane (845–903) é um nome notável nesse gênero. Seu trabalho combina melancolia e reflexão filosófica.
Exemplo inspirado em Michizane:
> Sob as estrelas,
O vento canta histórias
De tempos idos.
Entre pinheiros, ecoa
O som das eras passadas.
Original em português:
> No sopro frio,
As folhas contam segredos
De antigos rios.
Minha alma, como a brisa,
Vaga entre céus esquecidos.
Reflexão Sobre a Poesia Japonesa
A poesia japonesa, em todas as suas formas, nos ensina a encontrar beleza no efêmero e no pequeno. Seja no rigor do kanshi, na expansão do tanka, ou na simplicidade do haikai, o espírito que permeia essas formas é a busca por conexão com o mundo natural e espiritual.