Fragmento de um tempo imperfeito

Homens, ouvi: aquele que busca a perfeição com o ímpeto das próprias forças cedo encontrará o abismo. Pois quanto mais o homem tenta erguer-se por suas mãos, mais sente o peso das sombras que habitam sua natureza. Não digo que a perfeição seja quimera — ela existe, sim, em esfera mais alta, onde o divino permanece intocado —, mas a terra que herdamos já traz em si uma antiga nódoa, e dela nenhum mortal se liberta sem auxílio do alto.

Vãs são as obras daquele que pretende purificar-se apenas pelo próprio ardor. O homem pode ordenar seus costumes, disciplinar o espírito, refrear os impulsos; mas o lume do perfeito não se contém em vasos terrenos. O que lhe é dado é apenas o reflexo — tênue, distante —, que basta, contudo, para lembrá-lo de que há alturas que se tocam não com as mãos, mas com a alma ajoelhada.

Não é rendição o reconhecer-se limitado, mas sabedoria. Pois quem enxerga o próprio limite não cessa a busca: apenas aprende a caminhar com reverência. E esta é a mais alta lição — que o homem, mesmo ciente de sua imperfeição, continue erguendo o olhar ao invisível, onde habita a forma plena de tudo quanto é bom e verdadeiro.

— Das Meditações de Prezotto
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